Insomnia's Lounge from Nocturnal Affairs by Stonehag

Cadáveres ressequidos vagueiam pela escuridão do meu quarto. A sua essência infiltra-se nas paredes como uma enfermidade que se crava violentamente na carne dos vivos.
Os mortos habitam as paredes do meu quarto, corpos enegrecidos pelo tempo, que através do estuque murmuram lamentos de eras já há muito esquecidas.
Tenho corpos debaixo da cama, a fragrância das suas entranhas em decomposição infectam o meu espírito com uma aura comparável ao negro do meu quarto as 3:15 da madrugada.

Por entre as várias camadas de tecido rugoso, aquecido pelo escarlate que flui, encoberto pela derme, como rios infernais de lava subterrâneos.
Num delírio momentanêo dou por mim a percorrer as galerias subterrâneas. Estão gélidas, nada mais flui por estas fossas inanimadas.
A sua fundação, rocha fria e dura acompanhada apenas pelo incontornável silêncio que ecoa através do tecido temporal destas cavernas.

Por segundos volto a realidade do meu quarto, olho em redor, cadáveres suspensos pelos tornozelos esboçam sorrisos dolentes, uma dissimulação da dor enterrada nas suas essências fantasmagoricas. Sinto o olhar pesado destes vultos sombrios, estes recaem sobre mim como mil lâminas enferrujadas, metal oxidado disposto a delinear traços sobre o meu delicado tecido celular.
E avançam sobre mim, torrentes de contemplações extintas, de palavras desmembradas, de frases fracturadas, interpretações espectrais sem nexo ou compreensão possível.

Numa fracção de um milésimo de segundo, tudo retorna a normalidade. Os meus olhos diligenciam a escuridão, passo a pente fino o quarto, as paredes, os objectos. Nada se move.
Lá fora na distância é audível o uivar de cães raivosos, que na noite uivam, procurando preencher o vazio da sua essência solitária. Ruidos estranhos ecoam pelas telhas desta casa velha,
ratazanas devoram-se eroticamente sob uma lua rasgada. Tudo está em constante movimento, em constante transformação, o palpável mundo exterior, e o mentalmente insano cosmos interior.

G.R. // Stonehag

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