Lila Fadista from OCUPAÇÃO by Fado Bicha

A primeira canção em que trabalhámos com o produtor Luís Clara Gomes (e que iniciou a nossa relação de amor e respeito mútuo) é uma adaptação do fado "Júlia Florista", de Joaquim Pimentel e Leonel Vilar, escrito nos anos 40. Como muitos outros fados clássicos, este recupera uma figura popular da Lisboa do início do século XX, Júlia de Oliveira, florista e fadista amadora, conhecida na cidade pela sua exuberância, teatralidade e dotes vocais. Transformar a memória da sua vida em canção é não só eternizar o seu impacto, como gravar para a posteridade vários elementos da realidade de uma cidade e de uma população num determinado tempo. Esse acesso a uma ancestralidade foi sistematicamente negado às pessoas lgbti portuguesas. O que sabemos do passado da nossa comunidade resume-se a artigos de escândalo em jornais, notas de suicídio ou diagnósticos psiquiátricos. De certa forma, somos órfãs de uma genealogia perdida no tempo para a violência e o silêncio e cosemos uma manta de retalhos como único referencial.
"Lila Fadista" é uma adaptação que se transforma em fantasia arqueológica, como se pudéssemos ter um fado clássico a contar, em jeito de celebração, a vida duma bicha fadista na Lisboa de há 100 anos. Partindo da premissa brincalhona se a Amália pôde ter um "Fado Amália", nós também podemos ter um "Lila Fadista", a canção manteve o tom evocativo e panegírico do original, acabando por se revestir desse caráter de justiça poética, e cantamo-la como um hino à bicha fadista desconhecida.

O Fado Bicha é um projeto musical e ativista criado e desenvolvido por Lila Fadista, na voz e letras, e João Caçador, nos instrumentos e arranjos. O projeto assume-se de intervenção, começando na representatividade da comunidade LGBTI, e adensando-se pelos temas que abordamos e as posições em que nos colocamos, falando sobre género, colonialismo, racismo, feminismo e direitos dos animais.

fadobicha.com